por Luiz Carlos Azenha
Eu defendo as cotas raciais. Acredito
que devam ser resultado de ações afirmativas adotadas no âmbito de cada
instituição como, aliás, tem sido o caso no Brasil.
Respeito todos aqueles que argumentam contra as cotas, mas algumas das “teses” defendidas por eles são claramente risíveis.
Uma delas é de que a implantação de
cotas raciais no Brasil causaria uma guerra civil. Considerando o número
de universidades que já adotaram as cotas, a essa altura a guerra civil
já deveria ter estourado.
A ideia da explosão de uma guerra civil
entre brancos e negros, por causa das cotas raciais, resulta da visão
distorcida que alguns poucos intelectuais têm da convivência entre os
“de baixo”. Desconhecem os laços de solidariedade social e presumem, de
forma um tanto elitista, que os brancos pobres não são capazes de
reconhecer as injustiças históricas cometidas contra os negros.
É uma tese que desconhece, por
conveniência, alguns fatos históricos, como o engajamento de centenas de
milhares de brancos na luta pelos direitos civis nos Estados Unidos.
Lá, sim, houve uma guerra — e não foi de negros contra brancos, mas de
uma coalizão de negros e brancos contra o racismo oficial,
institucional.
No Brasil, o argumento falacioso da
guerra civil foi brandido, por exemplo, pelo todo-poderoso da TV Globo,
Ali Kamel, numa discussão interna com o repórter Rodrigo Vianna. Talvez,
aproveitando a decisão histórica do STF que considera as cotas
constitucionais, seja o caso do Rodrigo contar de novo o caso. Rodrigo,
àquela altura, questionava a postura unilateral da Globo na cobertura do
assunto.
A emissora fez campanha aberta e
declarada contra as cotas, usando para isso o Jornal Nacional. Podemos
dizer, sem medo de errar, que a emissora acabou mobilizando e
aglutinando em torno de si os que se opunham às cotas, garantindo a eles
visibilidade com o objetivo de convencer a opinião pública das teses
gestadas no Jardim Botânico. Neste esforço se engajou o DEM, autor da
ADIN que está em julgamento no STF. Sim, sim, é mais uma demonstração da
sintonia entre a emissora e o partido de Demóstenes Torres. No que mais
atuaram juntos? Nos bastidores do mensalão, por exemplo — como aliás,
notou Marco Aurélio Mello?
A questão, portanto, vai muito além da
implantação ou não das cotas raciais no Brasil, mas do uso de um bem
público — o espectro eletromagnético — por uma empresa privada para
promover suas teses junto à sociedade brasileira, de forma distorcida e
unilateral.
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